domingo, 7 de junho de 2009

dilúvio em vermelho


1


A rua estava morta. A noite fria e muda, o vento fazia os vidros das janelas tremerem de tão gelado e cortante. Uma das luzes clareou a rua vazia e o barulho do motor daquele Opala cortou o silêncio. A outra luz entrara agora do outro lado da rua, mais rápido e mais ofuscante. Dentro do Opala, um vigia noturno de um museu de história natural voltava para casa, sonolento após uma noite entediante no trabalho. No segundo carro uma jornalista, atrasada, cansada e apressada, com um copo de café em uma das mãos e a outra no volante. Os dois carros correram pela rua emudecendo o outro.
Abri o guarda chuva.
A chuva começou a cair desesperadamente, os relâmpagos emudeceram os dois carros como se os estivessem castigando por fazerem tanto barulho arruinando a paz que jazia na rua. Eu fiquei lá, parado, assistindo. A jornalista derramou o café fervente em seu colo, fazendo-a gritar de raiva e gemer de dor, desviando o olhar da estrada para sua roupa antes branca, agora marrom e transparente. O exausto vigia caiu involuntariamente no sono. Os céus explodiram, os carros também.
Fechei o guarda chuva.
A chuva parou, os céus descansaram. O vento suspirou. Fiquei olhando os destroços em chamas até que as duas almas fossem embora. Uma multidão cercou os destroços, Eles mentiram que não havia nada pra ver ali. Os fotógrafos fizeram seu álbum de fotos e desapareceram, sorrindo. Os anjos de branco lutaram contra os destroços. As duas almas haviam ido embora ainda antes do sol nascer.
Eu fui embora, não havia nada para ver ali.




Durante todo o tempo em que estive na terra, sempre fui algum tipo de pseudo escritor falido. Diariamente, desde que fora aberta, eu ia todas as manhãs para a mesma livraria a uma quadra do Central Park, e todos os dias ela sorria pra mim.
Entrei e me dirigi para a primeira estante que vi, com o tempo ela se tornara o motivo para eu ir a livraria. Fingi estar procurando alguma coisa, com o tempo ela também parara de perguntar se eu precisava de ajuda. Eu a observava, o olhar fixo nas palavras de algum livro que lia, um rosto lindo em depressão, um cabelo ruivo liso e delicado. Eu nunca havia feito contato oral, e nem ela.
Alguém entrou na livraria rompendo o silêncio, um menino, da mesma idade que ela – e da visão deles, da mesma idade que eu também. – ele correu para o balcão, atrás do qual ela estava sentada lendo.
- Ah, vamos Victoria, me desculpa. – Ele tinha uma voz insistente, mas nem um pouco preocupada ou arrependida. Eu me escondi atrás dos milhares de livros que habitavam aquelas estantes. Ela escondeu seu olhar no livro que segurava em suas mãos e não respondeu. – Vamos sair pra jantar, hoje. Eu prometo que vou compensar, por favor. – Ele ergueu o rosto dela com as mãos, fingiu uma expressão de tristeza, o lábio dela se contorceu em agonia enquanto a cabeça negava.
- Vamos lá... – Ele suplicou. – Você não tem nada a perder, por favor, me dê mais uma chance. – Pensei que ele fosse se ajoelhar e começar a chorar na frente dela, ela fechou o livro lentamente, sua face se contorceu de dor, como se fosse torturada ao fechar aquele.
- Não, não podemos sair hoje. – Ela começou a me olhar, tentei desviar o olhar, não adiantou. Ela suspirou e completou. – Nem hoje, nem nunca. – Sua voz era fria, mas tinha uma depressão profunda vindo com toda aquela frieza, os seus olhos tremiam, os lábios se contorciam sem parar como se ela estivesse entrando em desespero.
- E porque não? – Ele bateu as mãos sobre o balcão, ela recuou tremendo para trás, instantaneamente. – Me dê um bom motivo para você não querer mais me ver e não poder sair comigo! - A voz dele era estressada e um tanto esganiçada.
- Por que... – Ela começou com a voz trêmula, ela percorreu os olhos por toda a livraria e não encontrou nada, além de mim. – Vou sair com ele. – Olhou pra mim, eu fiquei imóvel, surpreso. Ele olhou impaciente, soltou um rugido e saiu com raiva da livraria.
- Bela desculpa. – Sorri com o coração batendo tão rápido quanto o choque dos carros nessa madrugada. – Conseguiu estressar ele, se era o que queria.
- Eu só queria que ele fosse embora. – Ela não sorriu, seus olhos fitavam o nada. – Mas... – Sua voz estava apagada. – Me pega às nove? – Ela levantou o olhar para mim e sorriu, seus olhos tinham um brilho.
- Realmente vai sair com alguém que não conhece?
- Não pode ser pior do que quem eu conheço. – Ela sorriu um sorriso que nunca havia me dado antes, e, involuntariamente, comecei a sorrir para ela.
É pior, é muito pior.

3 comentários:

AWWF disse...

quando tu fores um escritor famoso, não esquece da tua amiga BruninhaLinduxa, ok? hihihi quero o resto do livro, to adorando! :x beijo bigodes

Bells Moon disse...

Acho que já li o capítulo 1 algumas muitas vezes! hauiheuoheiouae
quando tu fores um escritor famoso, não esquece da tua amiga , ok? 2

Sté ☮ disse...

amei petter, vemk ;9 -q
é sério, posta o resto *-*